Confesso que estava me esgueirando um pouco para postar mais um texto de conteúdo político no meu blog "cineliterário". Falar de política hoje, no Brasil, é provocar os instintos mais primitivos de alguns seres humanos. Eu, por outro lado, sempre gostei de discutir política. Afinal, a política faz parte da nossa vida. Somos governados (ou desgovernados) por ela.
Seria chato e redundante falar sobre a segregação que a mídia criou desde a reeleição de Dilma Roussef, da dicotomia direita/esquerda e do ódio ao PT. Isso todos, ou a maioria, já sabem. Então pulemos essa parte e vamos direto aos comentários sobre o documentário da jornalista Petra Costa.
Em primeiro lugar, devemos entender o documentário "Democracia em Vertigem", não só como um relato histórico de um recorte importante do nosso país, mas também como um trecho biográfico da autora, uma vez que a narrativa é construída a partir da sua experiência com a política nacional.
A narrativa começa na infância de Petra, momento em que ela já observava a militância dos pais na luta pela democracia durante a ditadura que se instaurou em 1964.
Petra trata do tema de forma simples e direta, sendo honesta e deixando claro o seu posicionamento com relação às mudanças de poder no Brasil e a sua relação intrínseca (muitas vezes promíscua) com a classe mais rica do país, à qual a sua família pertencia. Apesar de sua condição privilegiada, Petra não concorda com o domínio econômico e político do país pelas classes mais abastadas da sociedade.
A narrativa é cativante e envolvente, tanto que as duas horas do documentário, gênero que poucos gostam, fluem muito rápido.
A trajetória do ex-presidente Lula, um dos maiores líderes dos últimos tempos, não poderia deixar de ser mostrada, uma vez que o recorte da história do Brasil que é retratado, tem Lula participando ativamente da cena política, seja como líder sindical, ou como Presidente da república.
Entretanto, o que Petra pretende , na minha visão, não é mostrar Lula, o PT e nem a história de Dilma Roussef, ainda que esses elementos estejam presentes em toda a narrativa. O que pretende a jornalista é mostrar a fragilidade em que se encontra a democracia brasileira e como a mesma vem perdendo força desde o impeachment de Dilma Roussef. Pela primeira vez em mais de 30 anos, a democracia se vê ameaçada pelo avanço de grupos de extrema direita que não compreendem as consequências de se viver em um país sem democracia ou, se compreendem, não se importam.
A discussão é longa e complexa, pois envolve muitas questões que perpassam por política, poder, uso da mídia, dinheiro e até religião. O documentário de Petra Costa nos leva a refletir sobre o país que queremos e sobre o que podemos fazer para que isso se torne realidade.
As redes sociais e a mídia em geral tiveram, e ainda têm, papel fundamental na política nacional e nos rumos que o país está tomando. É preciso saber usá-las, para que não sejamos usados por elas. A falta de conhecimento e de senso crítico têm levado as pessoas a usarem as redes sociais como fonte de referência e de conhecimento, o que representa um grande perigo, não só para a democracia, mas para o saber científico e para o conhecimento das futuras gerações. Com a facilidade do YouTube por exemplo, muitos não querem mais ler o livro, querem ouvir a opinião de alguém que leu, ou que pior, diz ter lido, sem, de fato, ler. Assim, discursos são reproduzidos em massa, "fake news" são difundidas a esmo, conhecimentos consolidados e cientificamente comprovados são desacreditados e novas "verdades" surgem para agradar aos que já desistiram de usar a razão e o senso crítico.
Assim, Democracia em Vertigem parece suscitar discussões bem maiores do que o tema sugere e está disponível no NETFLIX e bastante recomendado por mim.
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