Esse blog é sobre cinema e
literatura, mas de vez em quando eu peço licença para tratar de outros assuntos
relevantes para a nossa sociedade e hoje é mais um desses dias.
Como chegamos até aqui?
É uma pergunta que temos nos feito
bastante ultimamente. Na verdade, a pergunta é tardia, uma vez que o estado em
que estamos não se apresentou a nós “da noite para o dia”. Houve sinais. Muitos
sinais. E eles vieram de diversos lugares e épocas.
O lugar onde estamos, em maio de
2020, de descaso com a saúde da população, de desdém com as vidas perdidas, de
negação da realidade, de desprezo pela ciência e de alienação foi construído há
poucos anos com a propagação de ideias obscurantistas através das redes
sociais. Pessoas mal intencionadas e pessoas que foram manipuladas foram as
responsáveis por essa propagação. Ideias de negação da ciência, terraplanismo, movimentos antivacina, xenófobos
e contra o isolamento em época de pandemia têm ganhado força através dessas
pessoas. Ideias perigosas, que agora mostram que podem custar vidas, não só as
vidas dos que foram propagadores, mas também, as daqueles quem nem mesmo tiveram
acesso às redes sociais.
Assim, as redes sociais
desempenharam um papel maléfico, mostrando que o nosso Black Mirror pode ser tão cruel quanto o da ficção. Entretanto, não
podemos culpar o instrumento pela obra feita, do mesmo modo como não podemos
dar crédito ao pincel que pintou a Monalisa.
Que o crédito seja atribuído ao “artista”, e não ao instrumento usado por ele. As
redes sociais foram usadas por pessoas ao mesmo tempo em que pessoas foram, e
ainda são, usadas por elas. Muitas se deixaram usar, de fato, por preguiça, uma
vez que preferiram acreditar em tudo o que lhe chegava por aquele meio. Tudo
vinha pronto e, muitas vezes, de acordo com a ideologia do destinatário, o que
facilitava não só a recepção da mensagem como o seu compartilhamento. Às vezes
não era por preguiça, mas por falta de tempo. Tempo para refletir sobre aquilo
que recebia ou sobre a sua fonte. Muitos de nós estávamos sobrecarregados de
trabalho e afazeres e não tinha tempo para pesquisas ou reflexões.
Em 2018, na época das eleições, máquinas de
criar mentiras ganharam força e trabalharam de forma incessante para colocar no
poder o pior de todos os candidatos que ali se apresentavam. Junto a isso, é
claro, tinha um ódio a um partido de esquerda cujo possível candidato seria
provavelmente eleito se estivesse no páreo.
O ódio ao PT foi só uma parte da
manipulação das redes que favoreceu o pior dos candidatos, mas também, foi o
detalhe decisivo para a sua vitória.
O mensalão foi o ponto de partida e a lava jato veio para arrematar o destino trágico da reputação do
ex-presidente Lula e do Partido dos Trabalhadores. A forma como os oportunistas
usaram esses acontecimentos fez com que as pessoas esquecessem (ou negassem) que
o Brasil tem histórico de corrupção que data da época da colonização. Fez parecer
também que só no PT existia corrupção. Esse conjunto de coisas, aliado a outros
fatores como a crise econômica, os problemas políticos com a então presidenta
Dilma, a insatisfação da população com a situação do país e, por fim, a facada
que transformou em vítima um fascista foi responsável pelo estado em que nos
encontramos hoje.
Quem não sabia quem era o dito cujo,
hoje se arrepende do voto que deu. Quem sabia e votou justamente por ele ser o
que é, se mantém firme no apoio e aqueles que não votaram, carregam o fardo de
sofrer as consequências da escolha dos outros.
Hoje assistimos a uma onda de
arrependidos, famosos e anônimos, todos horrorizados com o que aí se apresenta.
Esse arrependimento começou tímido, lá no início de 2019, quando as falas do
então presidente eram contra direitos trabalhistas, contra a imprensa ou às
minorias. Foi aumentando com os pronunciamentos estapafúrdios e as postagens grotescas,
que iam desde pessoas urinando nas outras na rua para desqualificar o carnaval,
até a desqualificação dos outros poderes da União.
Quando se digitava no Google “pior
presidente do mundo”, lá estava ele. Uma reportagem da Folha de São Paulo de
novembro de 2019 apontou que o então presidente dava uma declaração falsa a
cada 4 dias, o que demonstra uma certa compulsão por mentir, mas ele seguiu
governando.
O tal arrependimento dos eleitores chegou
a níveis altos quando o ministro da saúde escolhido por ele foi demitido por
seguir um critério técnico e se posicionar a favor da vida, ganhando, inclusive,
mais popularidade que o próprio presidente e pareceu atingir o cume com a saída
daquele que simbolizava, para seus eleitores, a moralidade e a ética no governo:
o então Ministro da Justiça Sérgio Moro. Mas aquele não foi o cume. Foi um
golpe na reputação que resultou em demandada de apoiadores, mas ele segue
governando. O “cristão” que diz “E daí?” para milhares de mortos do país que
governa. Esse tal cume parecia tão perto... principalmente depois da sua
participação em movimentos antidemocráticos, em que se pedia AI5 e intervenção
militar. Movimentos esses que pareciam ter o mesmo patrocinador, dadas as
características semelhantes nas barracas, faixas e apetrechos utilizados.
Dezenas de pedidos de impeachment* se amontoam na mesa do presidente da Câmara
dos Deputados enquanto que, em outra esfera de poder, corre processo para
apurar possíveis crimes de responsabilidade do então presidente da república, e
esse cume não chega.
Repetidamente, o então presidente da
república faz declarações polêmicas, vergonhosas, vexatórias e desrespeitosas
que vem, horas ou dias depois, acompanhadas de notas e mais notas de repúdio de
diversas autoridades e personalidades do país, mas que, na prática, nada
resolvem. E nós, cidadãos, meros mortais, nada podemos fazer a não ser assistirmos
indignados a essas coisas, principalmente agora, num momento em que não podemos
ir às ruas nos manifestarmos. Mas, e se pudéssemos? Iríamos? Estaríamos nós
cansados demais? Envergonhados demais?
Essa semana o youtuber Felipe Neto se manifestou nas redes com relação aos
influenciadores que não se posicionam contra esse governo autoritário,
irresponsável e desrespeitoso por medo de perder seguidores. Felipe lança um
desafio a todos aqueles que são a favor da democracia, da liberdade de
expressão e de um país livre de ideias fascistas e afirma que aqueles que se
calam nesse momento, consentem com o que está posto. “Quem lava as mãos agora,
o faz com sangue”, como disse o ator Lima Duarte sobre o suicídio do seu colega,
o ator Flávio Migliaccio, que estava horrorizado com os rumos que o país tomou.
Assim, este texto é a minha
contribuição para esse momento que estamos vivendo. Nesse mundo digital, meu
blog é apenas um palito de fósforo no meio de tantas velas e lanternas, mas
isso não torna a minha contribuição menor.
Nenhuma ideologia deve estar acima
do bom senso, do respeito ao outro ou da democracia. Se essa ideologia é contra
tudo isso, então ela não vale a pena, principalmente para aqueles que são
cristãos, mas cristão de fato e não de discurso.
*Digite essa palavra no Google e veja que imagens aparecem.
*Digite essa palavra no Google e veja que imagens aparecem.
Fontes utilizadas:
Alguns canais do YouTube que possuem informações de qualidade:
Prazer, Karnal!
Henry Bugalho
Meteoro Brasil
Gabi Oliveira
Atila Iamarino
MyNews
Manual do Mundo
Pula Muralha
Tempero Drag
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