O poeta se expõe.
Se despe despudoradamente
como se despe uma prostituta.
Arreganha a alma e a mostra
como uma rosa que desabrocha.
Nu e sem pejo fica,
com isso não se importa.
A criação é maior que tudo.
Maior que os olhares alheios,
maior que as idéias alheias,
maior até,
que ele mesmo.
A criação IV
O que foi criado
já foi e pronto!
Não serve mais
para o poeta.
Foi algo imprescindivelmente
necessário
mas só por alguns instantes.
depois de “parido”
está morto e
imortalizado.
Identidade
Vira-te, move-te
volta-se e revolta-se
revolve-se.
Muda-te, transforma-te
continuas assim.
E assim serás,
um dia, a sombra,
apenas a lembrança
do que um dia fostes.
Sonho de poeta
Ter um intelecto superior
viver em outro plano
não fazer parte
da classe dos reles mortais
não ser semi-deus
ser o próprio!
A dança dos amantes
É uma luta, uma dança
uma briga de criança.
Um jogo, um enlevo
um riso e um chôro.
Um mergulho gostoso
em gostosa água.
Uma virada brusca
com reflexo perfeito.
Uma corrida sem prêmio
Uma ginástica vã.
Que finda num cansaço
de corpos quase mortos
enlanguescidos de gozo
e com saliva fresca
à borda dos lábios.
Conhece-te ao outro
Na singular e peculiar
linguagem dos amantes,
como saber algo
se o que se ouve
são sons involuntários,
palavras cortadas,
gemidos e sussurros?
O desentender
A minha lingüística sente o gosto amargo
dos teus vocábulos.
Roço devagar a ponta da língua
na tua fala oblíqua.
Desesperadamente busco a compreensão
dos sons que proferes.
Perco a noção da dicotomia saussureana
significante/significado.
É demasiado cruel compreender.
Escarlatemente converto-me em ignorante
e passo a desconhecer o meu vernáculo
`A Sá-Carneiro
Ah! Como eu queria agora
meter-me sob cobertores
e lá ficar como um doente
um pobre acamado e triste.
Queria debulhar-me em lágrimas
e desaguar a valer.
Lavar a alma
com as gélidas lágrimas
dos espelhos dela.
Rios de angústia...
Mas esses espelhos
não vertem mais.
São rios secos.
O dono deles
não as consegue expulsar
e por para fora a dor.
Tamanha dor
inexplicável dor
inexorável dor.
Dor de alma
dor de doença invisível,
incurável.
Dor que acomete o coração,
apertado, espremido,
e o juízo.
Ah! Sá-Carneiro!
Quando falas de dor
compreendo-te bem
Poemas publicados em 2007, na Antologia II de Valdeck Almeida de Jesus.
Amor-paixão
Quando há amor
é quando tudo possui
uma graça extraordinária.
Vive-se esplendidamente.
Deus faz cair do cosmos
uma gota de ternura
e a vida fica sublime
como um quadro de Monet.
A saudade é um mar interminável
onde navegam corações apertados
que alçam vôo
e descobrem a liberdade
quando os amantes se encontram.
Todas as coisas são ricas e
todas as saudades, imensas.
Todo olhar tem significado
e todo toque, nenhum.
Porque o toque é a concretização
do sentir.
Poema publicado em 2008, na Antologia Valdeck Almeida de Jesus Ano 3.
Olá!
ResponderExcluirGostei do poema "identidade" porque, para mim, fala de mudanças. As pessoas mudam tanto ao longo dos anos, para melhor e para pior, que às vezes deixam de ser quem realmente são. Transformam-se completamente.
E-mail: Carlalima1332@hotmail.com