Essa
semana, graças à troca de idéias através da internet, descobri umas frases do
saudoso José Saramago sobre a necessidade de convencer o outro do que se
acredita. Segundo ele, a tentativa de convencer é uma falta de respeito e uma
tentativa de colonizar o outro.
Achei interessante a expressão
“colonizar o outro” e fiz um paralelo entre a colonização portuguesa no Brasil
e as tentativas de colonização atuais que alguns evangélicos praticam
diariamente.
Os portugueses quando aqui chegaram,
arrogantemente, impuseram suas crenças, costumes e língua aos povos indígenas
que aqui viviam de forma pacífica e em harmonia com a natureza. Para os
portugueses, andar nu, desconhecer princípios de etiqueta social e viver sem
cultuar o seu deus católico era coisa de selvagens, de bichos. Assim, os homens
ditos “civilizados”, forçaram, literalmente, o índio a abrir mão de suas
crenças, dos seus conhecimentos, de sua cultura.
Como consequência dessa barbárie
social, temos hoje uma população indígena reduzidíssima que ainda vive de
acordo com seus costumes, terras usurpadas, cotas para indígenas participarem
de uma sociedade que não os reconhece como iguais e um órgão em sua defesa que
é extremamente ineficiente. Ganhou o poder do mais forte, do mais arrogante, do
mais ganancioso.
Nos dias de hoje nos revoltamos ao
lembrar que tais coisas existiram, mas deixamos de perceber que também hoje,
existe uma nova forma de “colonização”, talvez mais perigosa, por ser
sorrateira. Estou falando da forma como algumas pessoas ditas cristãs, evangélicas ou religiosas,
não sei qual seria a definição correta, mas são todos pertencentes a alguma
igreja que os faz crer que a salvação está ali.
Essas pessoas se acham no direito de
tentar convencer o outro de que ele está condenado e que elas estão salvas pelo
simples fato de estarem numa igreja. Elas tem a ousadia de enviar mensagens aos
nossos celulares, de nos fazer ouvir as músicas de suas preferências e
condizentes com suas filosofias e de nos julgar condenados ao inferno ao seja
lá para que lugar horrível elas acreditam que vamos nós, que não acreditamos
nas mesmas coisas que elas. Se acham donos da verdade. De uma verdade que jamais
foi comprovada, que jamais foi vista por olhos humanos.
Não estou com isso negando a
existência de deus. Se fizesse isso, estaria cometendo o mesmo erro que eles,
tentando convencer da não existência de algo sobre o qual não sei nada. Quem
crê em deus, crê no deus que sua visão de mundo lhe permite compreendê-lo e
essa crença é determinada pelo grau de evolução do ser humano, pelas suas
experiências de vida e pela cultura do local onde nasceu ou vive. Quem mora na
África, por exemplo, pode acreditar em vários deuses. Há quem diga que os
cristãos são semi-politeístas, já que creem e adoram deus, Jesus e o espírito
santo, além de acreditarem também em Satanás, que é considerado um ser supremo,
o que se encaixa na definição de deus, mas isso já é outra história.
O fato é que como cada um de nós é
único, a compreensão de deus também o é. Por isso é tão importante que nos
conheçamos, que compreendamos os propósitos que temos nessa vida e o que
estamos fazendo com o tempo de vida que nos foi dado por deus, pelo cosmos ou
por seja lá quem for que você acredite. O que não compreendo e não aceito é a
crença de que uma pessoa que fez o bem a vida toda não tenha a chamada
“salvação”, segundo os citados religiosos, pelo simples fato de não pertencerem
a uma igreja. Para mim, a “salvação” está dentro de cada um, no bem que faz
para si e para os outros. Sentir piedade e fazer caridade não é exclusividade
de quem está na igreja, pelo contrário, vejo mais ateus seguindo os
ensinamentos de cristo que muitos religiosos que passam o dia decorando trechos
bíblicos.
Tentar convencer o outro de suas
verdades é uma grosseria e não aceitar o debates de idéias é sinal de burrice.
Precisamos do outro para construir o nosso próprio conhecimento. Nosso saber,
nosso conhecimento de mundo, se dá através de diálogos e não de monólogos. Quem
discursa sem sequer discutir o que vem do outro não progride, mas continua
estacionado na sua convicção.
O homem é mutável e, por isso, deve
ser flexível, tolerante e receptivo, para que possa usufruir de uma evolução
intelectual saudável, baseada nas suas experiências e na troca de saberes com
os outros indivíduos. Correntes filosóficas foram baseadas nisso. Sociedades
foram construídas dessa forma e bases sólidas para o desenvolvimento da Educação
em todo o mundo foi, e é, construída com base em extensos debates.
Ao invés de tentar convencer o outro
de que sua crença é a verdadeira, lembre-se que sua crença é apenas uma entre
muitas e que as outras também merecem respeito. E muito cuidado com as igrejas
que prometem a salvação a preço fixo. Muitas delas pregam a prosperidade para
arrebanhar pessoas pobres e de pouco conhecimento para se manter e fazer com
que seus digirentes, nada humildes e nada ignorantes, fiquem cada vez mais
ricos.
O debate sobre esse texto está
aberto a todos, desde que não tentem me colonizar!
Aline
Vitória
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