A criação III
Se despe despudoradamente
como se despe uma prostituta.
Arreganha a alma e a mostra
como uma rosa que desabrocha.
Nu e sem pejo fica,
com isso não se importa.
A criação é maior que tudo.
Maior que os olhares alheios,
maior que as idéias alheias,
maior até,
que ele mesmo.
A criação IV
já foi e pronto!
Não serve mais
para o poeta.
Foi algo imprescindivelmente
necessário
mas só por alguns instantes.
depois de “parido”
está morto e
imortalizado.
Identidade
volta-se e revolta-se
revolve-se.
Muda-te, transforma-te
continuas assim.
E assim serás,
um dia, a sombra,
apenas a lembrança
do que um dia fostes.
Sonho de poeta
viver em outro plano
não fazer parte
da classe dos reles mortais
não ser semi-deus
ser o próprio!
A dança dos amantes
uma briga de criança.
Um jogo, um enlevo
um riso e um chôro.
Um mergulho gostoso
em gostosa água.
Uma virada brusca
com reflexo perfeito.
Uma corrida sem prêmio.
Uma ginástica vã.
Que finda num cansaço
de corpos quase mortos
enlanguescidos de gozo
e com saliva fresca
à borda dos lábios.
Conhece-te ao outro
linguagem dos amantes,
como saber algo
se o que se ouve
são sons involuntários,
palavras cortadas,
gemidos e sussurros?
O desentender
dos teus vocábulos.
Roço devagar a ponta da língua
na tua fala oblíqua.
Desesperadamente busco a compreensão
dos sons que proferes.
Perco a noção da dicotomia saussureana
significante/significado.
É demasiado cruel compreender.
Escarlatemente converto-me em ignorante
e passo a desconhecer o meu vernáculo।
A Sá-Carneiro
meter-me sob cobertores
e lá ficar como um doente
um pobre acamado e triste.
Queria debulhar-me em lágrimas
e desaguar a valer.
Lavar a alma
com as gélidas lágrimas
dos espelhos dela.
Rios de angústia...
Mas esses espelhos
não vertem mais.
São rios secos.
O dono deles
não as consegue expulsar
e por para fora a dor.
Tamanha dor
inexplicável dor
inexorável dor.
Dor de alma
dor de doença invisível,
incurável.
Dor que acomete o coração,
apertado, espremido,
e o juízo.
Ah! Sá-Carneiro!
Quando falas de dor
compreendo-te bem।
Oi Aline...
ResponderExcluirEu já tinha visto este outro blog seu, que achei bem melhor do que o primeiro que você me enviou.
Estes poemas eu reconheci logo que eram os publicados na "Antologia Poética Valdeck Almeida de Jesus - vol. II"...
Tá lindo seu blog. E os textos publicados de primeira qualidade... Você tem potencial e vai longe...
Bjssssssssssssssssss